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segunda-feira, 24 de maio de 2010

O IDEAL E A PREGUIÇA

Duas mentalidades


Há duas formas possíveis de situar-se perante a vida e as suas responsabilidades: – pode-se encará-la como uma missão – grande, bela e árdua –, que Deus propõe a cada um de seus filhos, e pela qual vale a pena gastar as melhores energias; – ou pode-se encará-la com a mentalidade do aproveitador. Para este, o que importa é passar bem, usufruir os prazeres da vida, fazer o imprescindível e não complicar-se. Assemelha-se a um mata-borrão que, quanto mais absorve – quanto mais a sua alma se embebe de egoísmo –, mais se estraga.
É característica desses tais, como diz São Josemaria Escrivá, “o comodismo, a falta de vibração, que impelem a procurar o mais fácil, o mais agradável, o caminho aparentemente mais curto, mesmo à custa de concessões no caminho da fidelidade a Deus”.
Com muito acerto escreveu um filósofo cristão dos nossos dias – Joseph Pieper – que “a preguiça significa, antes de mais nada, que o homem renuncia à altura da sua dignidade: não quer ser aquilo que Deus quer que seja”. E, nesta dolorosa renúncia, se destrói.
Desistir dos ideais é desistir de sermos “nós mesmos”. Porque cada um de nós só pode realizar-se de verdade na medida em que luta por ajustar-se àquilo que Deus lhe propõe como meta na vida. Ou porventura pensamos que Deus, Pai e Amor, Sabedoria infinita, nos lançou no mundo às cegas, sem ter em sua mente um plano para nós? Furtar-se a este plano de Deus, que é a sua Vontade e o nosso Ideal, é a mais radical das frustrações.
Na vida, o que nos desencanta não são as pequenas ambições insatisfeitas – no plano do sucesso e do dinheiro, por exemplo –, mas os ideais abandonados ou atraiçoados. Deus ofereceu-nos uma oportunidade, e nós a recusamos. Quantas vezes Eu quis – dizia Cristo com lágrimas, contemplando Jerusalém – e tu não quiseste! (Mt 23, 37).
Uma pista para desmascarar a preguiça
Ouvi contar há tempo, a um homem de Deus, a história verídica de um pastorzinho que todos os dias acompanhava o pai, ajudando-o a conduzir o gado para o pasto. Queimava-o o sol e cansavam-no as longas caminhadas, um dia após outro. Aconteceu que chegaram à fazenda uns estudantes para passar as férias. Acordavam tarde, passeavam longamente, prolongavam conversas à sombra das árvores. Um dia, um desses estudantes, no meio de um passeio vespertino, aproximou-se do garoto, que voltava cansado do pastoreio. – “Você – perguntou –, que gostaria de ser quando crescer?”. A resposta, após um relance ao moço e outro à boiada, não se fez esperar: – “Eu gostaria de ser ou estudante ou boi”.
Não andava pelas alturas, aquele menino. Queria uma vida cômoda: o dolce far niente do estudante em férias ou a paz do boi ruminando no pasto. Mas será que nós andamos por maiores elevações?
Uma das formas mais comuns da preguiça é justamente a repugnância pelas alturas espirituais e morais. É o que poderíamos chamar a ambição da mediocridade. Quer-se é viver bem, mas sem exageros de esforço nem loucuras de idealismo. Ser bom, ser um “cristão médio”, com a sua dose medida de religião, vá lá. Mas levar o cristianismo a sério e em plena coerência com a fé, isso considera-se fanatismo.
É muito interessante verificar que a sabedoria dos antigos, já desde os primeiros séculos do cristianismo, ao enfocar a preguiça, contemplava quase que exclusivamente o seguinte conteúdo: a resistência a atingir a altura espiritual e moral própria de um filho de Deus, de um cristão.
Na linguagem clássica cristã (de Cassiano a São Tomás de Aquino, passando por São Gregório Magno), o vício capital da preguiça era designado com o nome de acédia (ou acídia). A acédia é fundamentalmente uma tristeza, uma tristeza ácida e fria – daí o nome –, que invade a alma ao pensar nos bens espirituais – na virtude, na bondade, no amor a Deus e ao próximo –, precisamente porque não são fáceis de alcançar nem de conservar. Exigem esforço, renúncia, sacrifício. E o egoísmo se defende. A repugnância que sente por tudo quanto é abnegação e doação generosa vai criando depósitos azedos no coração, e acaba transferindo para Deus e para os próprios bens árduos que Deus pede uma fria antipatia, que pode terminar em aversão: “um tédio que acabrunha”, diz Santo Tomás de Aquino.
É natural que estes mesmos autores insistam no fato de que a acédia se opõe frontalmente àquilo que é a essência da perfeição cristã: o amor. A preguiça detesta o que o amor abraça, entristece-se com o que alegra o amor.
É possível que já tenhamos tido, alguma vez, a experiência desse tipo de tristeza, ao pensar em Deus e nos ideais cristãos, e nos tenhamos perguntado: por que Cristo exige de todos os seus seguidores que se neguem a si mesmos e tomem a cruz (cfr. Mt 16, 24)? Por que insiste na necessidade de perder a vida – de entregá-la – para achá-la (cfr. Jo 12, 25)? Por que assinala como lei áurea do cristianismo um amor ao próximo tão exigente, que deve ser um constante “servir e dar a vida’ pelos outros (cfr. Mc 10, 5)? Não seria mais agradável um programa suave, sem cruzes nem renúncias, feito de bondades descomprometidas? É bem possível que, sem reparar, tenhamos fixado como ideal de vida a honestidade hipócrita do fariseu – não mato, não roubo, pago o dízimo –, aliada à frase que se esgrime como uma fórmula de auto-canonização: “Não faço mal a ninguém”. Basta uma leitura superficial dos Evangelhos para concluir que isso não basta. Sede perfeitos, assim como vosso Pai celestial é perfeito (Mt 5, 48). O primeiro de todos os mandamentos é este: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mc 12, 29-31).
Quem quiser seguir a Cristo tem que renunciar à vida fácil. Não se pode entrar no Reino de Deus sem um empenho esforçado: O reino dos Céus – diz Cristo – é arrebatado à força e são os violentos (os que lutam energicamente) que o conquistam (Mt 11, 12). Iludem-se os homens quando pensam que levar Deus a sério vai perturbar-lhes a vida, metendo-os num calvário de compromissos, exigências e complicações. Quando, na realidade, o que complica e estraga a vida, com a maior perturbação que existe – o vazio –, é exatamente o contrário: o medo de levar Deus a sério, a apreensão que faz fugir dos compromissos do ideal cristão.
Nunca é por ter-se dado ou sacrificado que um homem se esvazia, mas por ter-se poupado.
É dolorosa como uma queimadura a constatação de que os anos vão passando e o vazio vai aumentando. São duras certas horas de solidão, em que parece que o coração reclama: – “Não sei o que está acontecendo comigo, falta-me alguma coisa e não sei dizer o que é”.
A única coisa que acontece é que não vivemos a “nossa” vida – o que ela deveria ser –, mas um substitutivo rebaixado ou uma falsificação. Somente seremos felizes quando realizarmos a Vontade de Deus a nosso respeito, porque só então é que nos encontraremos a nós mesmos. Aqui temos, pois, uma pista clara para descobrir a preguiça de fundo que faz murchar a alma e o coração: a renúncia à altura. Assim resume Pieper, com traços vigorosos, essa atitude: “A preguiça, como pecado capital, é a renúncia mal-humorada e triste, estupidamente egoísta, do homem à “nobreza que obriga” de ser filhos de Deus”.
Com vibração, São Josemaria, o homem de Deus que rasgou horizontes imensos de santidade a milhares de pessoas, dizia: “Vira as costas ao infame quando te sussurra ao ouvido: «Para que hás de complicar a vida?»” (Caminho, n. 6).
E, em uma das suas homilias, comentava deste modo a passagem da primeira pesca milagrosa, que nos descreve São Lucas, no começo do capítulo quinto do seu evangelho: “Conta-nos São Lucas que uns pescadores lavavam e remendavam as suas redes nas margens do lago de Genesaré. Jesus aproxima-se daquelas naves atracadas na ribeira e sobe a uma delas, à de Simão. Com que naturalidade o Senhor se mete na barca de cada um de nós! Para nos complicar a vida, como se repete em tom de queixa por ai fora. Convosco e comigo cruzou-se o Senhor no nosso caminho, para nos complicar a existência delicadamente, amorosamente.
“Depois de pregar da barca de Pedro, dirige-se aos pescadores: Navegai mar adentro e lançai as vossas redes! Fiados na palavra de Cristo, obedecem, e obtêm aquela pesca prodigiosa. E olhando para Pedro, que, como Tiago e João, não saia do seu assombro, o Senhor explica-lhe: Não tenhas medo, de hoje em diante serás pescador de homens. E eles, trazidas as barcas para terra, deixando todas as coisas, seguiram-no (Lc 5. 10-11).
“A tua barca - os teus talentos, as tuas aspirações, as tuas realizações - não serve para nada se não a colocas à disposição de Cristo, se não lhe permites entrar nela com liberdade, se a convertes num ídolo. Tu sozinho, com a tua barca, se prescindes do Mestre, falando sobrenaturalmente, caminhas direto para o naufrágio. Só se admites, se procuras a presença e o governo do Senhor, estarás a salvo das tempestades e dos revezes da vida. Coloca tudo nas mãos de Deus: que os teus pensamentos, as boas aventuras da tua imaginação, as tuas ambições humanas nobres, os teus amores limpos, passem pelo coração de Cristo. De outro modo, cedo ou tarde irão a pique com o teu egoísmo” (Amigos de Deus, n. 21).
Vale a pena meditar seriamente nisso.

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